domingo, 22 de maio de 2011

Se sou sábio sei

Prega o mocho eloquente
Na praça, para toda a gente:

Se sou sábio, sei.
Se não sei, sábio não sou.
- Ignorante, talvez! - Direi
Se ignoro como vou.
Se sou sábio, a sabedoria
É fonte de inspiração.
Se o não sou, a maravilha
Nasceu-me no coração.

Se a verdade me abraça o peito
E sigo o caminho sem o ver,
Talvez torto siga direito,
Talvez saiba sem o saber
E sábio ser.
Não saberei se sei mas sinto
- Digo - e não minto -
Que sou feliz.

O burro, atónito, pergunta ao boi:
- Percebes o que ele diz?
Responde o boi: - já a cabeça me doi!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um palácio de iludir

Ter, o jus, a beleza
Dum manifesto de esplendor
É um palácio de iludir.
Porque a justiça maior,
Na natureza,
Está em esta não existir.

domingo, 15 de maio de 2011

A viagem

Sabia que lhe esperava uma grande viagem. Procurei perceber o que o impedia. Reparei que a jangada não bulia devido à baixa profundidade das águas perto da costa tão serenas que se era incapaz de distinguir as ondas. Quando me abeirei da jangada, descobri que se encalhara em cima duma letra S deslocada da palavra BRUXELAS, porventura escrita numa outra língua. Empurrei-a para a frente, caindo em terra seca. Disse-me ele que o mar tinha recuado. Corri ao longo da praia e arremessei-a para o mar. A jangada era uma palete de madeira frequentemente usada no transporte de mercadorias. O mar bravo puxava-a para si, enquanto as ondas a devolviam violentamente à costa. A viagem não era apenas para a jangada e, por isso, ele resgatou-a. Compreendi, então, o meu erro.

sábado, 14 de maio de 2011

Desamparada

Estrias na face marcadas
Por duras lágrimas a escorrer
De tristes vistas lavadas
Pelo pranto ao anoitecer
São cantos, são hino
Às injúrias da vida.
Na capela, toca o sino
Deixando só a quem, o destino
Irá deixar esquecida.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Igrejas e relógios

Subo as imensas escadas que dão ao topo da montanha. Levo algumas horas a lá chegar. As escadas continuam no interior da igreja intervaladas por grandes patamares ladeados por outras igrejas. Eram miríades de igrejas dentro de uma igreja. E essas igrejas são relógios. São relógios do tamanho de grandes igrejas até se perder a vista.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ser livre

É sentir-se igual em ser diferente,
Aceitar diferenças, sua ciência,
É ter força de quem, clemente,
Encontra abrigo na clemência.

É estar em casa em terra alheia
E correr mundo sempre em casa
É ir mais longe somente em ideia,
Voar tão alto sem ando ou asa.

É, da contenda sentir repulsa,
Adversar a guerra vivendo em paz,
Amar a vida que bate e pulsa.

É, sendo tão fraco, ser o mais forte,
Não temer o tempo, o que ele traz
E com um sorriso, olhar a morte.

domingo, 1 de maio de 2011

Nunca mais colhi flores

Nunca mais colhi flores.
Quando colho uma flor,
Ela passa a ser só minha
E acaba por murchar.
Se não a colher,
Ela será de quem a quiser
E viça.
Pode vir alguém e colhê-la para si.
A flor passa a ser dele
Mas murcha,
Deixa de ser de ninguém
E continuar viçosa.